"A Noite", de Pedro Mexia, traz uma história há maneira de bonecas russas. Uma vez entrados na noite, enquanto for noite, é na noite que ficamos:
"(...) / dentro da noite noite, / e abrindo a noite noite, / outra vez noite, / repetidamente noite depois da noite / a seguir à noite". Noite é a palavra que persiste a "desenhar" o ambiente do poema. Claro que a noite pode ganhar outros tons, deixando o Sol iluminar a Lua, limpando as nuvens para deixar ver o brilho das estrelas. Mas só quando o sol se dispuser a iluminar o dia [não esquecer que a noite é uma parte das 24 horas do dia], é que a mudança de cenário será radical. Mas isso é cenário que o poema de Pedro Mexia não contempla: nele não existe porta que permita a sua entrada. Se a queremos, não temos outro jeito que não passe por desenhá-la.
Que palavras podemos escrever n'«A Noite», que possam ser, ao menos, um vislumbre de saída?
Procurá-las com a escrita, talvez seja uma forma de entrar, mais profundamente, no poema. Queres aceitar o desafio?
Antes de mais, repara no título deste poema:Boletim Metereológico! - «Metereológico» pode muito bem ser o erro de pronúncia de que o Jorge Sousa Braga se serviu para inventar uma palavra nova: neste caso, uma palavra que serve para identificar a descrição de «estados de alma» [coisas que sentimos], associados ao estado do tempo. Temos então um «Boletim Metereológico», que dá conta de «aguaceiros (...) que serão de neve nos pontos mais altos da Serra da Estrela e no teu coração». Depois da leitura do poema, desafio-te a procurar boletins meteorológicos, com os quais possas compor outros «Boletins metereológicos» -talvez mais ótimista, se quiseres.
NOTA: O Mário Viegas pegou num boletim meteorológico, que retirou de um jornal, e organizou-o como se fossem versos de um poema. Depois disse-o da forma que podes VER AQUI >>>, dando a entender que a voz que damos a um texto pode alterar o seu sentido.
Ouve o poema;
Depois faz o que tens feito com todos os poemas que te tenho dado a ouvir: oferece-lhe a tua melhor voz. Se tiveres com quem, diz o poema a dois, como fizeram o Mário Viegas e a Manuela de Freitas.
Pela leitura do poema, ficaste a saber [se é que ainda não sabias] que as espécies de caracóis, mais comuns e conhecidas, não se dão bem com o calor. Preferem a sombra e os lugares húmidos. Por isso, o Eugénio de Andrade decidiu que o seu caracol iria à loja do sr. Adão comprar um girassol, que lhe pudesse servir de guarda-sol, para assim evitar morrer com o calor.
Temos, então, um poema com um pedaço de um dia de verão do caracol, que não sabemos como acaba, mas que para o caso pouco importa! Porquê? Porque o assunto é o verão: o caracol ao sol é apenas a forma encontrada pelo poeta, para nos fazer sentir o verão.
E tu, és capaz de inventar uma forma [parecida ou outra qualquer] de trazer o verão até nós?
Ou o outono?
Ou o inverno?
Ou a primavera?
Se aceitares o desafio, precisas:
escolher uma estação do ano;
descobrir uma personagem que não se dê bem com uma ou outra característica do seu clima [Ou, se quiseres, podes dar outro caminho à tua "história" e escolher uma personagem que goste];
inventar um episódio que descreva o que ela faz para se proteger [da chuva, do frio, do vento, do calor... ] do que quer que seja, de acordo com a situação que escolheres- não esqueças que se optaste por uma personagem que se dá bem, ela não precisará de se proteger e o acontecimento terá de ser outro.
Um poema, em prosa, de Jorge Sousa Braga, que te convida a descobrir histórias [um convite que podes ou não aceitar], se te dispuseres a escutar as perguntas, que o poema coloca dentro de ti.
Primeiro lê, ouve ler e volta a ler, as vezes que precisares, até encontrares a voz que fica melhor no poema [a que mais gostares].
De seguida, faz as perguntas, individualmente ou em grupo, que o poema te coloca, à medida que vais lendo, e compõe a tua história, juntando ao poema as respostas que encontrares.
Ora repara:
O poema abre com: "Sinto como se vivesse dentro de uma nuvem. Branca."
Sentir como se vivesse dentro de uma nuvem, não é a mesma coisa que viver mesmo dentro dela, pois não?
Que podes sentir dentro de uma nuvem? Leveza, talvez!
Experimenta, então, fazer uma lista de palavras, relacionadas com leveza.Mas se não for leveza que sentes, faz a tua lista com palavras relacionadas com a tua escolha.Pode ser qualquer tipo de palavra: nomes, adjetivos; adjetivos formados a partir de nomes, nomes formados a partir de adjetivos; verbos... qualquer palavra que possa transmitir a sensação que procuras. E, depois, escreve frases com elas [que soem bem ao ouvido, se possível] para preencher este espaço, que acabamos de abrir aqui.
Assim, com as perguntas que fores capaz de fazer, vais criando, no poema, os espaços necessários às tuas frases, para contares a história.
E o poema continua: "Fecho os olhos e deixo-me arrastar. Pelo vento."
Chegará então uma altura em que o vento deixa de soprar. E paras nalgum lugar! Que lugar é esse? Que acontece por lá?
Se precisares, para te inspirares ou, quem sabe, te ajudar na tua escrita, convido-te a ouvir e a ler "Até ao Arco-Íris", que um grupo de meninos e meninas [talvez da tua idade] escreveu, a partir destas "Nuvens".
Ouve o poema e, de seguida, atreve-te a dar-lhe a tua melhor voz, seguindo o exemplo da Carolina [uma menina do 1º Ano da Escola de Cabanões], que podes ouvir no 2º vídeo.
Era giro desafiares um amigo ou amiga, para ler o poema contigo, como fizeram o Mário Viegas e Manuela de Freitas! [Duas crianças da tua idade seguiram esta sugestão: podes ouvi-las no 3º vídeo].
Depois desafio-te a pegar na lista de "palavras importantes", que escreveste para recriar o poema "Atlântico", e a uses para recriar a primeira quadra deste poema de Eugénio de Andrade. Claro que, se quiseres, podes juntar mais palavras à tua lista.
A ideia, que gostaríamos que seguisses, é que juntes as recriações dos dois poemas numa só.
Como exemplo tens o que alguém da tua idade fez com a palavra borboleta: Borboleta Metade da minha alma é feita de vontade de voar. É tão bom ser borboleta
Um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, duas vozes para dizê-lo.
Dois versos - o 1º apenas com a palavra mar - fazem este poema de Sophia.
Lê o poema em voz alta, as vezes que precisares para poderes dizê-lo de cor - são só dois versos, vai ser rápido decorá-lo. Mais difícil será dizer o poema, como um poema merece ser dito. Mas se tiveres dificuldade em encontrar a "voz certa", podes copiar o modo de dizer da Ana Zanatti, que dá a voz ao poema, no vídeo [Podes também copiar o modo de dizer da Maria Bethânia, copiando ou não o seu sotaque]. Depois, quando te sentires confiante, diz o poema para os teus colegas, para os teus amigos ...
O poema tem o mar dentro dele, mas não é do mar que o poema fala, pois não? O mar foi muito importante na vida de Sophia de Mello Breyner.Só quem se sente muito ligado ao mar seria capaz de dizer: "metade da minha alma é feita de maresia".
E tu tens alguma coisa na tua vida que mereça um poema? Se te quiseres atrever, mas apenas se te quiseres atrever, podes recriar este poema, a partir de uma palavra, que indique uma coisa muito importante na tua vida.
Se aceitares este desafio, aconselho-te a escrever uma lista de palavras importantes para ti [uma palavra pode ser importante porque traz lembranças, ou faz pensar, ou...] mas que, ao mesmo tempo, sejam música ao ouvido. Depois escreves e logo vez como fica!
Alguém da tua idade escreveu isto: Arco-íris Metade da minha alma é feita de_________ Lua Metade da minha alma é feita de_________ Poema Metade da minha alma é feita de_________ [Se tiveres curiosidade em saber como ficaram os poemas, envia a tua pergunta, com o que achas que está escrito em cada um deles, para o seguinte @-mail: agoragaia@gmail.com - Quem sabe se não pensaste nas mesmas coisas].
E para acabar por hoje, uma variação: substituir o verbo ser por outro verbo.
Ex.: Mar / Metade da minha alma gosta de navegar.
Uma curiosidade:
Se viste todos os vídeos, certamente reparaste que o poema "Atlântico" é também o 1º verso do poema "Mar", que, entretanto, deixou de ser publicado - não consta nas edições mais recentes -. A última edição que conheço, com este poema, data de 1992 [Obra poética I, Edição Círculo de Leitores]; mais recentemente foi editado um cd com uma compilação de poemas ditos por Ana Zanatti [voz que ouves nos vídeos]. Talvez a Sophia de Mello Breyner desistisse deste poema, guardando apenas o 1º verso, para fazer o "Atlântico"! Não sei. Mas se alguma vez vier a saber, prometo que digo!
Um cabeça-no-ar pode ser alguém que vive permanentemente distraído. E estar permanentemente distraído, não é coisa boa. Mas estar apenas de vez em quando, pode ser divertido -distrair, entre outros significados, significa divertir, diz o dicionário.
«As melhores coisas são feitas no ar», diz Manuel António Pina. E dá alguns exemplos: «andar nas nuvens, devanear, voar... fazer castelos no ar e ir lá para dentro morar».
Então o desafio, que te faço hoje, é devanear. O que é devanear? Consultando o dicionário, podemos ler: - fantasiar, sonhar; - meditar; - pensar em coisas vãs [sem valor, sem importância]; - dizer coisas sem sentido.
Vamos então devanear. Com os olhos fechados [ou abertos, se preferires], enquanto ouvimos o poema, deixemo-nos levar... Sentir, sentir apenas, deixar o pensamento voar... Mas atenção, se escolheres devanear de olhos abertos, põe os olhos a olhar sem ver!, tal como aconselha Manuel António Pina.
Não precisamos de fazer mais nada! Simples, não é?
No fim, se quiseres, e apenas se quiseres, podes falar ou escrever sobre os teus devaneios, sobre as coisas, sem sentido, que pensaste!
Repara: se riscarmos as repetições e reescrevermos o que sobrou, não sobra grande coisa, pois não? Sem as repetições, o que fica é uma notícia muito pouco interessante! Embora sendo apenas repetições, sãoelas que fazem o poema ser o que é.
Completo, o poema diz muito mais, muito mais mesmo! Podemos imaginar histórias de tantos acontecimentos, a partir dele. Mas para isso, ao leres pedra, não podes ver pedra.
No vídeo, encontras três leituras, três formas de dizer o poema, que podem ajudar-te a imaginar essas histórias e conversar sobre elas, com os teus colegas, com a tua professora [ou professor]. E com as leituras que te dispuseres a fazer, talvez consigas imaginar outras mais.
Se o leres a rir, ele conta uma história;
se o leres zangado, ele conta outra;
se o leres a chorar ele conta mais outra;
e se o leres de outra forma qualquer, ele contará, certamente, outra ainda.
E podes escrever uma história [ou uma notícia] a partir da leitura que escolheres. Se preferires [ou também], podes pegar num acontecimento banal que viveste, e escrever qualquer coisa parecida com o poema de Carlos Drummond de Andrade. Claro quetambém podes esquecer tudo isto e, simplesmente, deixares-te embalar pela leitura do poema.
Repara neste poema, escrito à volta de um acontecimento banal: os dias nascem todos os dias. Nada de novo, afinal: todos sabemos que os dias nascem, todos os dias - quer dizer, nascem todos os dias em Portugal, porque há terras onde, depois do dia nascer, o dia mantém-se dia, durante meses!
Mas depois, o que faz Alberto Pimenta?
Arruma as palavras de tal forma, que estas, ao ser lidas, nos convidam a fazer uma espécie de música com elas! É isso que a poesia também é: música! E por isso há quem diga que, mais do que ler um poema, quando lemos em voz alta, a gente toca a leitura. Convidamos-te, então, a tocar o poema [quer dizer, a ler], com a tua voz, a encontrar a música de que o poema precisa.
No vídeo ao lado, podes encontrar seis formas de o tocar. Ouve e escolhe aquela de que mais gostares. És capaz de dizer porquê? Se não souberes não te preocupes. Não é assim tão importante! Finalmente, proponho-te um desafio de escrita, se quiseres aceitar: substitui o nascimento do dia por outro nascimento qualquer.
Todas as noites a noite nasce [descobre outra palavra, para substituir nasce]
Primavera, verão, outono, inverno [não pode ser todos os dias, pois não?]
Experimentar formas de ler: oferece outros ritmos outras entoações à leitura deste poema. Podes tentar seguir o vídeo com a tua voz. Para isso desativa o som.
Finalmente, se puderes e quiseres, grava a tua voz [no telemóvel dos teus pais ou no computador], e ouve o resultado. Ensaiar a leitura, lendo para um gravador, pode ser divertido e ajuda a encontrar a melhor forma de dizer um poema ou um texto.
Como deves ter percebido, pelo nome do autor, este poema não foi escrito [originalmente] em português: foi escrito em francês. Se tiveres curiosidade em ouvir como é dito, na língua que o criou, podes ouvi-lo na voz de Serge Reggiani - cantor e ator francês- Quem sabe, talvez queiras experimentar dar à tua leitura, um modo de lerparecido. Em português, claro! - Mas se fores estudante de francês e quiseres saber como está a tua fala nesta língua, tens aqui um ótimo um desafio.
Recriar noutras escritas: reescreve o poema com outros motivos, escolhendo outros cenários.Por Exemplo: Para fazer o retrato de um cão Pintar primeiro a casota
... ... ... ... ... ...
Se escolheres este motivo, tens de prestar atenção ao cenário: não vais pintá-la numa floresta, pois não? Nem colocá-la no ramo de uma árvore! Depois há imensas coisas que se aplicam aos pássaros mas não fazem sentido para os cães.
Precisas, talvez, antes de te aventurares na escrita, de investigar modos de vida de um e outro. Por exemplo: o pássaro "canta" e o cão ladra, o pássaro tem penas e o cão pêlo... e a lista de diferenças contínua.
Um poema para ouvir,ler, ou ler e ouvir ao mesmo tempo...
Nos tempos que correm, obrigado a ficar em casa, há quem se sinta parecido com o melro, fechado numa gaiola.
A. M. Pires Cabral é isso que sente [sentia, quando escreveu o poema], embora por razões diferentes: "(...) eu sou como ele:/ alguém me reduziu o tamanho do quintal / até o quintal ficar isto que se vê".
E tu, como te sentes?
Ao leres o poema vais encontrar uma série de expressões curiosas:
- O melro é uma gargalhada semovente[observa a palavra "semovente". Tenta chegar ao seu significado, investigando-a. Se eu te disser que é formada por duas palavras que conheces, de certeza que chegas ao seu significado, sem consultar o dicionário];
- ... ... ... ... ...;
- farrapos de riso a esvoaçar nos ramos;
- outras que tu, com a tua curiosidade, quiseres procurar - inspirado em todas elas, podes escrever outras frases [ex.: os farrapos podem ser de muita coisa, e nem só o riso é semovente].
Cinco poemas do livro "Desta varanda o Mar" e mais seis do livro "Estão agora floridas as magnólias".
A cada um destes poemas, bem pequeninos, juntei uma pergunta [são 11 perguntas no total] que podes ver nos vídeos que estão aqui para ouvires. E, a estas perguntas, podes juntar outras, que queiras fazer. Era giro, se fizesses as tuas perguntas antes de veres as que eu fiz. Talvez, quem sabe, as perguntas que fizeres, venham a ser iguais, ou parecidas com as minhas!
E as respostas?
Essas serás tu a dá-las, se quiseres! E, quem sabe, talvez queiras escolher uma [ou mais] e, com ela, partires à aventura da escrita de poemas [ou histórias, se preferires], inspirado, ou inspirada, pelos pequenos poemas de Albano Martins.
Finalmente [ou no princípio de tudo, tanto faz], diz de memória o poema que mais gostares, com a melhor voz que lhe puderes emprestar. Porque não há nada como a voz para dar vida a um poema.
Um poema de José Luís Peixoto e outro de Carlos Drummond de Andrade para falar de palavras mágicas, e do que faz uma palavra ser mágica...
Uma palavra mágica pode ser uma palavra que se diz, ou que se esconde num olhar, num gesto...
Montanha, brilho, precipício, são palavras mágicas, porquê? O poema de José Luís Peixoto não diz porquê. Mas também não diz que são. Diz apenas que podem ser [O que faz uma palavra mágica é, talvez, a sua situação]. Só o que acontece depois pode dizer se a palavra é mágica ou não.
- O brilho revela a estrela que, de outra forma, não conseguiríamos ver;
- é preciso subir a montanha ou descer ao precipício para dar conta da sua magia.
«Depois dessa palavra [mágica], só depois dessa palavra, pode acontecer o amor», remata o poema de José L. Peixoto.
- Podemos procurar essa palavra mágica que antecede o amor! - sabemos que pode ser qualquer palavra que se diz [sempre diferente] ou o silêncio que, por ser silêncio é o lugar das palavras que não se dizem; as tais que estão num olhar, num gesto...
- Ou podemos fazer do amor uma palavra mágica.
O amor é, então, palavra mágica! E se é palavra mágica o que é que vem depois dela e só depois dela? E teremos, talvez, outras palavras, que podem ser mágicas também.
Claro que podemos esquecer tudo isto. E ler o poema, apenas. E trazer também a leitura de «A palavra mágica» de Carlos Drummond de Andrade e ver no que dá, o que acontece: Um pretexto, talvez, para falar do amor e da amizade ...
Ler o poema [É um poema “simples”, mas de leitura difícil] com apenas seis letras: duas consoantes [d, n] e quatro vogais [a,e,i,o]. Combinadas entre si, formam as quatro palavras que compõem o poema [anda, ainda, aonde, onda]. Parece um trava-línguase podes lê-lo de muitas maneiras: rápido ou devagar; a rir ou a choramingar, com alegria ou com irritação, etc.]
Responder às perguntas
Fazer perguntas
Responder às perguntas que fizeres
Substituir ONDA por outra palavra [Ex. NADA, ou VENTO, ou NUVEM]
Excerto de "Uma escuridão Bonita" uma história de Ondjaki
Este é um daqueles livros que nos convidam a agarrá-lo devagar. Primeiro é a capa a prender-nos o olhar e depois o título: «Uma Escuridão Bonita». A leitura da contracapa segue-se como consequência lógica. Acontece então abrir o livro. E lemos: «O silêncio é uma esteira onde nos podemos deitar». Continuamos a leitura até ao fim da página. As três páginas seguintes, sem texto, com ilustrações apenas, talvez nos ponham em suspenso, expectantes para o que iremos ler a seguir: «Achas que pode caber o quê no coração das pessoas?».
É um daqueles livros que, pela linguagem poética de que é feito, pede leitura em voz alta. É um livro cheio de imagens a saltar da história, para pensar!
Sinopse:«Numa das muitas noites em que falta a luz em Luanda, dois adolescentes ensaiam o seu primeiro beijo, mas este primeiro beijo precisa de muitos ensaios, de muitos momentos de aproximação e afastamento, de certezas e de inseguranças... o ambiente ajuda e o pretexto surge: estão os dois na varanda da avó Dezanove, às escuras, à espera do cinema bu: um cinema que só acontece (na p. 80) quando um carro passa com a velocidade e os faróis certos para projectar sombras/imagens nas paredes brancas das casas da rua escura. O beijo acontece mesmo, mas apenas na p. 101. Esta é uma das mais comoventes histórias do narrador infantil do Ondjaki» [in sitio web da Livraria Almedina].
Montagem a partir de excertos de uma história de Luís Leal Miranda
Uma história, qualquer história, responde a uma pergunta. Muitas vezes, é uma pergunta do tipo: E SE ... ?
E se um governante louco decidisse proibir as cedilhas ? - Esta foi, aparentemente, a pergunta que deu origem a esta história. E a seguir a esta seguem-se outras perguntas, que traçam o seu rumo. Uma delas parece ser: como ficam as palavras que perderam a cedilha ? - Com a resposta a esta pergunta, ficamos a saber que a terça-feira continuou a ser um dia da semana, só que pronunciado de uma maneira diferente [terca-feira ]. Mas o que aconteceu com outras palavras teve
consequências muito graves: as calças deixaram de ser calças e desataram a calcar toda a gente, e a louça fez-se louca !
Temos, então, umconvite: brincar com as palavras, a partir do prolongamento da pergunta: procurar palavras que ficaram esquisitas, quando perderam a cedilha [exemplo: caça/caca; pança/panca ... ].
As perguntas que passam pela cabeça do escritor são essenciais para que ele possa imaginar uma história. Sem perguntas não há como inventar uma história! Mas também há as perguntas que passam pela cabeça do leitor. Umas têm resposta fácil, bastando, para tal, procurá-la na história, descobrir o significado de palavras desconhecidas, que dificultam a compreensão de uma frase...
Temos, então, um segundo convite: listar as palavras novas, com os seus significados; inventar frases para cada uma delas; encontrar sinónimos que as possam substituir ...
Outras são perguntas que nos permitem perceber a lógica da história, os seus argumentos - ler é interrogar o texto, ouvimos tantas vezes.
Chegamos, então, ao terceiro convite: fazer perguntas ao texto, sugerindo possíveis respostas [por exemplo, em que é que se poupa proibindo cedilhas?].
Finalmente, com o que descobriste, podes reescrever a história. Ou dar-lhe um final. Ou apenas trocar impressões com os teus colegas e a tua professora ou o teu professor.