Hoje encontrei-me com este pequeníssimo poema (Haiku, a julgar pela sua forma*), de David Rodrigues, que a lua de manhã ** o levou a escrever.
À primeira leitura, leio que nem todos os sonhos (ou nenhum, talvez) cabem numa noite.
Que podes fazer a partir deste poema?
Podes, se quiseres, aceitar o desafio:
— escrever sobre o que a lua te faz sentir (ou outro astro, outra paisagem ou outra coisa qualquer), em três versos, sem te preocupares com a métrica da estrutura tradicional deste género de poema, tal como aconselha Gonçalo M. Tavares: «escrever algo aproximado aos haikus, sim, apenas isso — nada mais do que isso, uma vizinhança —, vizinho por vezes bem afastado, outras vezes um pouco mais ali, ombro com ombro. […] Nem dezassete sílabas, nem outras leis […]; apenas um ritmo a três compassos lentos. Uma vizinhança apenas, embora mantendo o nome; assuntos distintos, outro ritmo, outra direção».**
— escrever outro poema que, em vez de começar com a "lua de manhã", comece com a "lua de tarde", por exemplo***, mantendo a presença da noite e do sonho — Nota que, mesmo sem seguir, na íntegra, a estrutura tradicional deste género de poema, este não é um desafio fácil. Exige-te muito mais do que trocar um verso por outro. Ora repara: ao começar com a lua de tarde, a noite ainda está para chegar. E ao anteceder a chegada da noite, a lua de tarde é anúncio. Anúncio de quê?
Claro que podes esquecer tudo isto e ficar apenas (e o apenas não é coisa pouca) pela leitura que te der mais prazer. Mas para isso precisas de ensaiar a leitura com a voz ou as vozes que melhor servem este poema — Nota que há muitas outras formas de dizer-lo, para além das formas presentes no vídeo.
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Estrutura: Tradicionalmente, um poema de três versos com a métrica de 5, 7 e 5 sílabas, totalizando 17 sílabas. Este poema respeita apenas o total de 17 sílabas, mas não é por isso que não deixa de ser um haiku, apenas não se deixa amarrar pela métrica tradicional.
Temática: Foca-se em temas da natureza e do cotidiano, com um tom objetivo e direto.
Justaposição: O poema costuma unir duas imagens contrastantes, uma delas representando o tempo ou as estações, e a outra uma observação ou revelação.
Filosofia: A ideia é capturar um momento de forma similar a uma fotografia, transmitindo uma emoção ou sensação de forma subtil.
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